19 de nov. de 2012

Os sentidos do “Jejum”


A palavra jejum, do latim jejunus, designa a abstinência ou redução de alimentos em certos dias por penitência ou por preceito religioso. O jejum não é invenção do cristianismo, este apenas adaptou de outras religiões e o santificou. Trata-se, por exemplo, de hábito antigo na Índia e no Oriente: jejuavam os egípcios; jejuavam os lacedemônios e outros povos da Grécia antiga, incluindo os atenienses; jejuavam os romanos; jejuavam os hebreus desde a mais remota antiguidade, como ainda jejuam, especialmente no Yom Kipur, que é o “Dia do Perdão” ou “Dia da Expiação”; jejuam os muçulmanos no sawn, que é o­ jejum feito durante o período do ramadã (nono mês do calendário lunar islâmico). Bluteau dividia os jejuns em: natural (total abstinência de comer e beber, desde a meia noite antecedente), medicinal (ordenada por questões de saúde), filosófico (privação de alimentos para o livre exercícios das faculdades intelectuais), moral (renúncia para uma finalidade de caráter moralizante), espiritual (para evitar o pecado), penitencial (abstinência de comidas muitos apetitosas para expiar culpas) e eclesiástico (voluntário para satisfação dos preceitos da igreja). Exemplos: de Euclides da Cunha, em “Os Sertões”: “Pregava, então, os jejuns prolongados, as agonias da fome, a lenta exaustão da vida. Dava o exemplo fazendo constar, pelos fiéis mais íntimos, que atravessava os dias alimentando-se com um pires de farinha. Conta-se que em certo dia foi visitado por um crente abastado das cercanias”; de Adolfo Caminha, em “A Normalista”: “Tomava-lhe o rosto uma palidez de reclusa macerada pelos jejuns, cavavam-se-lhe os olhos, onde se refletia visivelmente o estado de sua alma, e os cabelos iam perdendo aquele brilho resplandecente que era o desespero do Zuza”; de Coelho Neto, em “A Conquista: “Observavam um rito antigo, de muita severidade, que impunha, como principal sacrifício, o jejum, de quando em quando, para moderar os ímpetos da carne”; de Jorge Amado, em “Capitães da Areia”: “Suas orações foram mais longas, o terror do inferno se misturava à beleza de Deus. Jejuava dias inteiros e sua face ficou macilenta como a de um anacoreta. Tinha olhos de místico e pensava ver Deus nas noites de sonho”; de Inglês de Sousa”, em “O Missionário”: “No tocante aos ardores juvenis, que as mulatinhas haviam experimentado, pareciam sopiados na atmosfera fria e severa em que se achava, se bem que às vezes - com muito nojo o recordava - se desregrassem em extravagâncias, confessadas na quaresma, e justamente punidas com jejuns e macerações, a que Antônio se dava com um entusiasmo que lhe valia a admiração dos mestres e a zombaria invejosa dos condiscípulos e cúmplices”; de Eça de Queiroz, em “O Crime do Padre Amaro”: “E em redor dele, sentia iguais rebeliões da natureza: os estudos, os jejuns, as penitências podiam domar o corpo, dar-lhe hábitos maquinais, mas dentro os desejos moviam-se silenciosamente, como num ninho serpentes imperturbadas”; de José de Alencar, em “O Garatuja”: “Ao sair da aula, armava-se de um carvão, e lá se ia a despejar pelos muros do convento caretas e engrimanços de toda a sorte, pelo que estava constantemente a levar carolo do padre reitor, quando não era a penitência de joelhos ou em cruz, e o jejum a pão e água”; de Almeida Garret, em “Viagens na Minha Terra”: “Os jejuns, as vigílias, as orações nada obtiveram ainda de Deus. A sua ira não me deixa, a sua cólera vai até à sepultura sobre mim... Se me perseguirá além dela!”; de Aloísio de Azevedo, em “A Mortalha de Alzira”: “As macerações dos jejuns e das ásperas disciplinas não conseguiram desfibrar-lhe de todo a sólida compleição com que a natureza o dotara. Apesar de tudo, era ainda, nos seus cândidos vinte anos, uma garbosa e gentil figura, que havia fatalmente de impressionar às damas sensuais da corte de Luís XV”; de Bernardo Guimarães, em “O Seminarista”: “Muito bem! agora é preciso também queimar nesse coraçãozinho inexperiente o lixo das paixões mundanas e pecaminosas no fogo do amor divino, redobrando de devoção, rezando com muito fervor, impondo-se jejuns e penitências, e suplicando do fundo da alma ao divino Espírito Santo, que lhe ilumine o entendimento e lhe vigore o coração, dando-lhe forças para poder combater vitoriosamente contra a tentação do pecado”;   A Brasileira de Prazins:  de Camilo Castelo Branco “Porque o seu sogro, acrescentou, era um asno às direitas que comprava a bula para poder comer carne em dia de jejum; e, sem que eu a provocasse a vomitar heresias, disse que os padres vendiam a bula e compravam a carne”; de Domingos  Olímpio, em “Luzia Homem”: “Quanto à remoção, até dava graças a Deus por se ver livre daquela cambada de retirantes nojentos e leprosos, cujo aspecto, em jejum, causava engulhos”; de Júlio Diniz, em “As Pupilas do Senhor Reitor”: E, no meio destas ostentações de ascetismo, quantas vezes se esconde folgada a devassidão, que não dúvida ornar o pescoço de camândulas e bentinhos, e vê na excitação nervosa, produzida pelos jejuns, um alimento a favorecê-la?

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É isso!

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