A palavra jejum,
do latim jejunus, designa a abstinência
ou redução de alimentos em certos dias por penitência ou por preceito religioso.
O jejum não é invenção do cristianismo, este apenas adaptou de outras religiões
e o santificou. Trata-se, por exemplo, de hábito antigo na Índia e no Oriente:
jejuavam os egípcios; jejuavam os lacedemônios e outros povos da Grécia antiga,
incluindo os atenienses; jejuavam os romanos; jejuavam os hebreus desde a mais
remota antiguidade, como ainda jejuam, especialmente no Yom Kipur, que é o “Dia do Perdão” ou “Dia da Expiação”; jejuam os
muçulmanos no sawn, que é o jejum
feito durante o período do ramadã
(nono mês do calendário lunar islâmico). Bluteau dividia os jejuns em: natural
(total abstinência de comer e beber, desde a meia noite antecedente), medicinal
(ordenada por questões de saúde), filosófico (privação de alimentos para o
livre exercícios das faculdades intelectuais), moral (renúncia para uma
finalidade de caráter moralizante), espiritual (para evitar o pecado),
penitencial (abstinência de comidas muitos apetitosas para expiar culpas) e
eclesiástico (voluntário para satisfação dos preceitos da igreja). Exemplos: de
Euclides da Cunha, em “Os Sertões”: “Pregava,
então, os jejuns prolongados, as
agonias da fome, a lenta exaustão da vida. Dava o exemplo fazendo constar,
pelos fiéis mais íntimos, que atravessava os dias alimentando-se com um pires
de farinha. Conta-se que em certo dia foi visitado por um crente abastado das
cercanias”; de Adolfo Caminha, em “A Normalista”: “Tomava-lhe o rosto uma palidez de reclusa macerada pelos jejuns, cavavam-se-lhe os olhos, onde
se refletia visivelmente o estado de sua alma, e os cabelos iam perdendo aquele
brilho resplandecente que era o desespero do Zuza”; de Coelho Neto, em “A Conquista:
“Observavam um rito antigo, de muita severidade, que impunha, como
principal sacrifício, o jejum, de quando
em quando, para moderar os ímpetos da carne”; de Jorge Amado, em “Capitães da
Areia”: “Suas orações foram
mais longas, o terror do inferno se misturava à beleza de Deus. Jejuava dias inteiros e sua face ficou
macilenta como a de um anacoreta. Tinha olhos de místico e pensava ver Deus nas
noites de sonho”; de
Inglês de Sousa”, em “O Missionário”: “No tocante aos ardores
juvenis, que as mulatinhas haviam experimentado, pareciam sopiados na atmosfera
fria e severa em que se achava, se bem que às vezes - com muito nojo o
recordava - se desregrassem em extravagâncias, confessadas na quaresma, e
justamente punidas com jejuns e
macerações, a que Antônio se dava com um entusiasmo que lhe valia a admiração
dos mestres e a zombaria invejosa dos condiscípulos e cúmplices”; de Eça de Queiroz, em “O Crime do Padre Amaro”: “E em redor dele, sentia iguais rebeliões da natureza: os estudos, os jejuns, as penitências podiam domar o
corpo, dar-lhe hábitos maquinais, mas dentro os desejos moviam-se
silenciosamente, como num ninho serpentes imperturbadas”; de José de Alencar, em
“O Garatuja”: “Ao sair da aula, armava-se de um carvão, e lá se
ia a despejar pelos muros do convento caretas e engrimanços de toda a sorte,
pelo que estava constantemente a levar carolo do padre reitor, quando não era a
penitência de joelhos ou em cruz, e o jejum
a pão e água”; de
Almeida Garret, em “Viagens na Minha Terra”: “Os jejuns, as vigílias, as orações nada obtiveram ainda de Deus. A sua
ira não me deixa, a sua cólera vai até à sepultura sobre mim... Se me
perseguirá além dela!”; de
Aloísio de Azevedo, em “A Mortalha de Alzira”: “As macerações dos jejuns e
das ásperas disciplinas não conseguiram desfibrar-lhe de todo a sólida
compleição com que a natureza o dotara. Apesar de tudo, era ainda, nos seus
cândidos vinte anos, uma garbosa e gentil figura, que havia fatalmente de
impressionar às damas sensuais da corte de Luís XV”; de Bernardo Guimarães,
em “O Seminarista”: “Muito bem! agora é
preciso também queimar nesse coraçãozinho inexperiente o lixo das paixões
mundanas e pecaminosas no fogo do amor divino, redobrando de devoção, rezando
com muito fervor, impondo-se jejuns
e penitências, e suplicando do fundo da alma ao divino Espírito Santo, que lhe
ilumine o entendimento e lhe vigore o coração, dando-lhe forças para poder
combater vitoriosamente contra a tentação do pecado”; A Brasileira de Prazins: de Camilo
Castelo Branco “Porque o seu sogro,
acrescentou, era um asno às direitas que comprava a bula para poder comer carne
em dia de jejum; e, sem que eu a
provocasse a vomitar heresias, disse que os padres vendiam a bula e compravam a
carne”;
de Domingos Olímpio, em “Luzia Homem”: “Quanto à remoção, até
dava graças a Deus por se ver livre daquela cambada de retirantes nojentos e
leprosos, cujo aspecto, em jejum, causava engulhos”; de Júlio Diniz, em “As Pupilas do Senhor Reitor”: E,
no meio destas ostentações de ascetismo, quantas vezes se esconde folgada a
devassidão, que não dúvida ornar o pescoço de camândulas e bentinhos, e vê na
excitação nervosa, produzida pelos jejuns,
um alimento a favorecê-la?”
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É isso!
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