A
palavra epifania vem do latim epiphania, que quer dizer aparição. Trata-se da celebração
católica em que se comemora a aparição divina aos reis Magos. Antigamente neste
dia era comum partir-se e comer-se, em família, um bolo, de composição e de formato
especial, chamado “bolo rei”, no
qual se incluía uma fava, símbolo da realeza. Cortava-se o bolo em tantas partes quanto
havia de convidados, sobrando um pedaço à parte, que se chamava “quinhão de Nossa Senhora”, o qual
deveria ser dado a um pobre. A pessoa que ficava com o pedaço em que se encontrava a fava era
proclamado rei ou rainha. Esta tradição não se usa mais nos dias de hoje. O
nosso escritor João do Rio, em sua obra “A Alma Encantadora das Ruas”, faz
menção da festa, relatando o episódio bíblico dos reis magos:
Que sabemos nós
da Epifania? Homens de leve erudição e de fé sem vigor, andamos a sutilizar
velhos textos e antigos costumes, e tanto sutilizamos que a dúvida acomete o
nosso espírito e a confusão perturba a viagem dos três Reis com os vestígios
das saturnais e das bodas de Caná. Nem os sacerdotes nos altares nem os
eruditos em livros fartos, ninguém hoje conseguirá explicar claramente a suave
aparição e a festa simples que o povo realiza, fazendo vir de alta montanha,
guiados por uma estrela loira, Gaspar, Melchior e Baltasar com a oferenda de
ouro, incenso e mirra para o menino que Herodes perseguirá.
Há
os versículos de Mateus: “Jesus nasceu em Belém de Judá, nos tempos do rei Herodes.
Vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo”; sabe-se que presepe
significa etimologicamente estrebaria ou jaula. Os gnósticos vêm, com esses
dois elementos, simbólicos, confusos; os sábios indagam de mais e, enquanto
estes esterilmente escrevem páginas estéreis, os povos criam a legenda suave, e
a legenda perdura, cresce, aumenta, esplende numa doce apoteose de perfumes e
de bem.
Os presepes são uma criação popular. Antes dos artistas de Paris e Viena, que
expõem nos salões do Campo de Marte e no Kunstlerhaus, o povo criou nos
presepes o anacronismo religioso, o anacronismo que, segundo la Sizeranne , é a fé; pôs,
como Breughel nos Peregrinos de Emaús e Beraud na Madalena entre os Fariseus,
homens de hoje nas cenas do Velho Testamento.
É isso!
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