19 de nov. de 2012

A origem da “Vacina”



A palavra vacina, do francês vaccine, remonta à palavra latina vacca, “porque era do ubre das vacas que se tiravam a matéria que inoculava as crianças contra as bexigas”. As primeiras experiências com vacina foram realizadas na Inglaterra pelo médico Eduardo Jenner, no ano de 1798, que se espalharam rapidamente de 2 a 3 anos por toda a Europa. A vacina nada mais é do que a utilização de qualquer espécie de vírus atenuado que, colocados no organismo, induz certas reações e a formação de anticorpos capazes de tornar imune esse organismo ao germe utilizado. Machado de Assis, com sua fina ironia, comenta as proeza das vacinas em “A Semana”: “Tudo tende à vacina. Depois da varíola, a raiva; depois da raiva, a difteria; não tarda a vez do cólera-morbo. O bacilo-vírgula, que nos está dando que fazer, passará em breve do terrível mal que é, a uma simples cultura científica, logo de amadores, até roçar pela banalidade. Uma vez regulamentado, fará parte dos cafés e confeitarias. Que digo? Entrará nos códigos de civilidade, oferecer-se-á às visitas um cálix de cólera-morbo ou de outro qualquer licor. Os cavalheiros perguntarão graciosamente às damas: “V. Ex. já tomou hoje o seu bacilo?” Far-se-ão trocadilhos”. No Brasil a vacina chegou em 1804 (“de braço a braço, de escravos”), mandada vir de Lisboa por negociantes portugueses da Bahia. No início do século XX, mais exatamente no ano de 1904, sob o comando do médico sanitarista Oswaldo Cruz, o governo brasileiro tornou obrigatória o uso da vacina contra  a varíola, o que culminou na chamada “Revolta da Vacina”. Em seu livro “História do Brasil”, o professor Francisco de Assis Silva comenta esta rebelião: “O descontentamento generalizado levou à explosão da revolta popular em novembro de 1904. Durante vários dias a cidade tornou-se um campo de batalha. De pequenos distúrbios, a revolta atingiu dimensões gigantescas, com a massa dos cortiços e das favelas, operários e comerciantes enfrentando as tropas, fazendo barricadas, queimando bondes, invadindo delegacias e postos policiais etc. Do quebra-quebra e do enfrentamento resultaram centenas de mortos de ambos os lados. A luta popular foi seguida de uma revolta militar. Os líderes dessa revolta (o tenente - coronel Lauro Sodré e os generais Silva Travassos e Olímpio da Silveira) viam na rebelião popular uma possibilidade de derrubar o presidente Rodrigues Alves. Após alguns embates vitoriosos os rebeldes militares foram derrotados por tropas fiéis ao presidente. A revolta da massa entrincheirada e armada com bombas, revólveres, carros carregados de dinamite e pedras também foi sufocada. A capital federal conhecera uma agitada semana que colocou em perigo a constitucionalidade da nação e resultou num número incontável de mortes, prisões, espancamentos, assassinatos e deportações.” Em seu “Diário Íntimo” Lima Barreto, que esteve por lá, escreveu: “O governo diz que os oposicionistas à vacina, com armas na mão, são vagabundos, gatunos, assassinos, entretanto ele se esquece que o fundo dos seus batalhões, dos seus secretas e inspetores, que mantêm a opinião dele, é da mesma gente”. Em seu clássico “Capitães da Areia”, Jorge Amada nos brinda com o da varíola: “Omolu mandou a bexiga negra para a cidade. Mas lá em cima os homens ricos se vacinaram, e Omolu era um deus das florestas da África, não sabia destas coisas de vacina. E a varíola desceu para a cidade dos pobres e botou gente doente, botou negro cheio de chaga em cima da cama. Então vinham os homens da Saúde Pública, metiam os doentes num saco, leva para o lazareto distante. As mulheres ficavam chorando, porque sabiam que eles nunca mais voltariam.”

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É isso!

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Referência Bibliográfica:
Francisco de Assis Silva: História do Brasil. Editora Moderna. São Paulo, 1994.

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