18 de mai. de 2018

Etimologia mística de “Jerusalém”


Etimologia mística de “Jerusalém”

No cume dum cerro nu, dominando os vales erguiam-se as grossas muralhas de  Jebusalaim, capital dos jebuseus, inexpugnável  e altiva, encerrando a sua fonte perene de Gihon, que passou a se chamar Fonte da Virgem. O monte fortificado e povoado de Sion desafiava a cobiça dos hebreus, que empreendiam vagarosamente a conquista difícil da Palestina. Saul deixara várias vezes a cidade de Gabaa e impelira os seus soldados até à base dos muros desafiadores; mas a falta de recursos e de máquinas de guerra o forçava a não dar início ao cerco.

Porém o talento político e estratégico de Davi, quando guiou a nação dos Beni-lsrael, compreendeu quanto representaria para o futuro de seu povo e para o completo domínio da região a posse da fortificação jebusita. Sua obra era a continuação da obra dos sufetas ou juízes, unir a nação, dar fim às rivalidades, ter sempre sob a mão Efraim e Judá, e tirar do seio do povo de Jacó todos os espinhos dolorosos. Desses o maior era aquele constante, impertinente desdém da forte Salim (lugar de segurança), povoação destinada a centralizar o governo real e a simbolizar a homogeneidade do povo de laveh. Diz Renan que foi Davi quem criou Jerusalém, quem fez da capital israelita o polo magnético do amor e da poesia religiosa do mundo.

Os grandes doutores da Igreja arranjaram  etimologias místicas simbólicas para esse nome singelo de Jebusalaim (fortaleza dos Jebuseus). São Jerônimo divide deste modo: Jebu, Salém + Jerusalém. Jebu quer dizer calcada aos pés, salém  significa paz, e a combinação adulterada dos  dois, Jerusalém,  traduz-se por visão de paz.  A  divisão ternária representa a Santíssima Trindade e a explicação da origem da palavra é inteiramente mística. Só depois de calcada aos pés, de humilhada, a gente se pôde elevar até à paz. Para o mesmo  santo, Adão vivera os últimos anos de sua  vida e morrera nessa ditosa cidade, sendo sepultado na colina do Calvário, de maneira que o  lugar onde se enterrara o homem que cometera o primeiro pecado vira o sacrifício do "homem” (Jesus) que veio resgatar todos os pecados. Santo Agostinho apoia a mesma etimologia. A designação  Hierosolima, de puro sabor grego, é uma criação romana. Ela aparece a primeira vez no discurso de Cícero – “Ad Atticus”.

João do Norte (1921).

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