19 de nov. de 2012

A origem da “Cerveja”


A palavra cerveja, segundo alguns, vem de cervisia, termo utilizado pelos antigos romanos. Outros ainda a fazem derivar de Ceres, deusa da germinação. Dizem ainda que sua origem remonta aos antigos gauleses, porém, sabe-se que se tratava de uma bebida trivial no antigo Egito, que atribuía sua invenção a Osíris. Também os antigos gregos, belgas, germanos, espanhóis, italianos, entre outros, consumiam a bebida. Adam Smith, em “A Riqueza das Nações”, considera a cerveja inglesa um artigo de luxo, assim como vinho: “Todas as demais coisas eu as denomino artigos de luxo, sem com este termo pretender lançar a mínima censura a quem deles faz uso moderado. Denomino artigos de luxo, por exemplo, a cerveja e a cerveja inglesa, na Grã-Bretanha, e o vinho, mesmo nos países produtores desse artigo.” Nietzsche compara o alcoolismo, incluindo aí a cerveja, como o segundo “narcótico” alemão, sendo o cristianismo o outro. Assim escreve em “Crepúsculo dos Ídolos”: “O que poderia ser o espírito alemão, quem já não teria experimentado seus pensamentos melancólicos sobre isso! Mas esse povo emburrou-se arbitrariamente, desde quase um milênio: em nenhum outro lugar, os dois grandes narcóticos europeus, álcool e cristianismo, foram mais viciosa e abusivamente utilizados. Recentemente, até mesmo um terceiro narcótico veio ainda acrescentar-se a esses dois; um com o qual é possível aniquilar sozinho toda mobilidade sutil e audaz do espírito: a música, nossa música alemã entulhada e entulhadora. - Quanto há do peso enfadado, do aleijão, da umidade, do robe, quanto há de cerveja na inteligência alemã! Como é afinal possível que homens jovens, dedicando sua existência aos fins mais espirituais, não sintam em si o primeiro instinto da espiritualidade, o instinto da autoconservação do espírito, e bebam cerveja?... O alcoolismo da juventude erudita talvez não seja ainda nenhum ponto de interrogação no que concerne à sua erudição. Pode-se, mesmo sem espírito, ser um grande erudito. Mas se considerarmos de qualquer outro modo, ele permanece um problema. Onde não se encontraria a suave degradação que a cerveja produz no espírito! Em um caso que quase se tornou célebre, uma vez coloquei o dedo em uma tal degradação – a degradação de nosso primeiro espírito livre alemão, do inteligente David Strauss; o homem que se transformou no autor de um evangelho de cervejaria e de uma "nova crença"... Não à toa fez ele seu elogio à "amada loura" em versos. - Fiel até a morte...”  No Brasil o hábito de beber cerveja vem de longe. A Literatura nos oferece bons exemplos, como estes, a partir do século XIX: de Lima Barreto, em “Histórias e Sonhos”: “Estava ali o velho Maximiliano esquecido, só moendo cismas, bebendo cerveja, obediente ao seu velho hábito”; em “Diário Íntimo”: “O dia é meigo. O Sol, ora espreitando através de nuvens, ora todo aberto, não caustica. Nos dois abarracamentos cheios de gente, espoucam garrafas de cerveja que se abrem”;  de Adolfo caminha, em “A Normalista”: “É o que tu pensas, retorquiu o outro. Hoje não há que fiar em moças, pobres ou ricas. Todas elas sabem mais do que nós outros. Lêem Zola, estudam anatomia humana e tomam cerveja nos cafés”; de Coelho Neto, em “A Conquista”: “Sabe ler? - perguntou abruptamente o Neiva dirigindo-se a Anselmo, enquanto o garçom ia enchendo os copos com a cerveja que o Motta mandara vir. O estudante sorriu vexado”; de Júlia Lopes de Almeida, em “A Intrusa”: “Adolfo parecia grudado ao bufê, comendo sanduíches e bebericando cerveja, no meio de um grupo de remadores muito adulados pela admiração dos outros”; de Jorge Amado, em “Capitães da Areia”: “Faltava para o miserável hotel onde se hospedara e que era o único da vila, e também o trago de pinga, para a cerveja, que não era gelada ali, assim mesmo ele gostava”; de Inglês de Souza, em “O Missionário”: “Grave e digno, o sacristão afastou-se sem dizer palavra, e meteu-se pelo corredor. Um homem de sobrecasaca de brim branco, e chapéu de manilha na cabeça, passava sobraçando botijas de cerveja Bass”; de Aloísio de Azevedo, em “O Cortiço”: “O Garnisé tinha bastante gente essa noite. Em volta de umas doze mesinhas toscas, de pau, com uma coberta de folha-de-flandres pintada de branco fingindo mármore, viam-se grupos de três e quatro homens, quase todos em mangas de camisa, fumando e bebendo no meio de grande algazarra. Fazia-se largo consumo de cerveja nacional, vinho virgem, parati e laranjinha”; de Joaquim de Macedo, em “A Luneta Mágica”: “Depois da velha correu a ter comigo um cavalheiro de maneiras muito distintas, e da mais perfeita cortesia, a quem acontecera um desses pequenos infortúnios, a que todos estamos sujeitos: acabando de comer pastéis, e de beber uma garrafa de cerveja, reconhecera haver esquecido a carteira, e achava-se naturalmente muito contrariado”; de João do Rio, em “A Alma encantadora das ruas”:  “O negro casou em Portugal , o Zás-trás conseguiu tudo com jeito, e eu fui encontrar o Saldanha aposentado, considerado como um velho artista diante de um copo de cerveja”; Artur Azevedo, em “Contos fora de moda”: “Os dois amigos sentaram-se a uma mesa, diante de dois copos de cerveja alemã. O Miranda esvaziou imediatamente um deles, e pediu reforço.”


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É isso!

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