26 de nov. de 2012

O que é “Dissimulação”



A palavra dissimulação vem do latim dissimulatio: disfarce, fingimento, arte de encobrir as intenções e pensamentos. O verbo dissimular significa: não dar a perceber, não revelar seus sentimentos, ocultar, encobrir, fingir etc. Um bom exemplo vem de Machado de Assis, da sua personagem Capitu, do romance “Dom Casmurro”, a qual, na visão do agregado José Dias, fingia dissimulação no próprio olhar: “Você já reparou nos olhos dela? São assim de cigana oblíqua e dissimulada”. 

E, aqui, seguem mais alguns exemplos de Machado de Assis, sobre o sentido de dissimulação

Em “Entre Santos”: “Tinham já contado casos de fé sincera e castiça, outros de indiferença, dissimulação e versatilidade”; em “Memorial de Aires”: “Talvez ele tenha alguma dissimulação, além de outros defeitos de sociedade, mas neste mundo a imperfeição é coisa precisa”; 
Em “Esaú e Jacó”: “Ao almoço e durante o dia, falaram muita vez da cabocla e da predição. Agora, ao ver entrar o marido, Natividade leu-lhe a dissimulação nos olhos. Quis calar e esperar, mas estava tão ansiosa de lhe dizer tudo, e era tão boa, que resolveu o contrário”; 
Em “Memórias Póstumas de Brás Cubas”: “Não me confessou o marido a causa da recusa; disse-me também que eram negócios particulares, e o rosto sério, convencido, com que eu o escutei, fez honra à dissimulação humana”; 
Em “Iaiá Garcia”: “Nem lhe deixou concluir a frase de agradecimento; cortou-a com uma carícia; depois falou-lhe da beleza, das ocupações, de cem coisas alheias a objeto que as reunia, dissimulação generosa, que Estela compreendeu, porque também possuía o segredo dessas delicadezas morais”;
Em “Helena”: “Melchior foi o primeiro que voltou a si. A reflexão corrigiu a espontaneidade, e o padre reassumiu o gesto usual, com essa dissimulação que é um dever, quando a sinceridade é um perigo”; 

Em “Ressurreição”: “Como a confiança de Félix não se havia alterado, Lívia usava assim uma dissimulação honesta, por simples motivo de piedade e gratidão.”

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É isso!

25 de nov. de 2012

Quem era o “Alcaide”?



A palavra alcaide tem origem no árabe al-qaid: que conduz, que guia, de um verbo que significa: capitanear, governar, marchar na frente de um exército. Entre os antigos dizia respeito ao governador de uma província, aplicando-se o termo, também, ao capitão de uma companhia de soldados. Exemplos: de Almeida Garret, em “Arco de Sant’Ana”: “O alcaide-mor e seus oficiais desembainharam as espadas e seguiram; os homens d’armas, o resto dos archeiros que não tinham desertado, a guarnição toda do castelo, e digamos assim, toda a casa militar do bispo, que era numerosa, acorreu a seu senhor”; de Alexandre Herculano, em “O Bobo”: “Depois de outra vez ficar alguns momentos calado, continuou em tom de mofa: - Podeis, Senhora, ordenar que soem as trombetas e timbales nos vossos castelos e honras; que os vossos alcaides juntem os cavaleiros, os vossos vílicos os besteiros, archeiros e fundibulários.”

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O que é “Panteísmo”


O termo panteísmo vem do francês panthéisme, a partir do radical grego pan: todos, tudo,  e theós: deus, divindade.  Trata-se de uma doutrina filosófica  que identifica Deus com tudo o que existe, o qual se confunde com a Natureza. Segundo Lewis Sperry Chafer, em sua “Teologia Sistemática”: “Como o termo dá a entender, o panteísmo é a crença de que Deus está em todas as coisas e que todas as coisas são Deus, confundindo assim Deus com a natureza, a matéria com o espírito, e o Criador com as coisas que Ele criou. A filosofia panteísta tem recebido duas diferentes vias de acesso. Uma é que a matéria deu origem a tudo e é Deus, sendo que a vida e o espírito são apenas modos de existência do Absoluto todo-inclusivo. A outra é que o espírito é tudo e que a matéria no tem existência substancial além da impressão mental, ou a ilusão de que existe. Em outras palavras, Deus é tudo. Assim, tanto o idealismo como o realismo encontram-se representados nestas duas formas desta filosofia”.


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Gnose, Gnóstico e Gnosticismo


A palavra gnóstico vem do grego gnostikos: capaz de conhecer, conhecedor, iluminado, ilustrado, dotado de conhecimento. Refere-se o termo ao seguidor do gnosticismo, ecletismo filosófico sincrético surgido nos primeiros séculos da Era Cristã, principalmente em Alexandria, e que pretendia conciliar todas as religiões através da gnose, um mistério transmitido aos fiéis mediante complexos ritos de iniciação, e definido da seguinte forma por José Ferrater Mora, em seu “Dicionário de Filosofia”: “Define-se de um modo geral o gnosticismo como toda a tendência e pretensão de conseguir o saber absoluto, sem que isso signifique sempre o acesso ao mesmo por via puramente racional ou intelectual: mas antes mística e estética. Usualmente chamam-se gnósticos a uma série de pensadores que elaboraram grandes sistemas teológico-filosóficos durante os primeiros séculos da era cristã, nos quais se encontram misturadas as especulações do tipo neo-platônico com os dogmas cristãos e as tradições judaico-orientais.” E na definição do “Novo Dicionário da Bíblia”, organizado por J. D. Gouglas:  O termo gnosticismo é derivado do vocábulo grego gnosis, conhecimento, e tradicionalmente aplicado a um conjunto de ensino herético que a igreja primitiva teve de enfrentar nos dois primeiros séculos de nossa era. Entretanto, atualmente é largamente aplicado para aquelas formas da religião helenista, tanto pré-Cristã como pós-Cristã, que exibem características semelhantes àquelas heresias e algumas vezes a qualquer forma de religião em que o dualismo e a possessão de conhecimento superior são elementos importantes: por isso tem sido aplicado a certas porções do Novo Testamento e, de fato, ao Cristianismo como um todo. Exemplos extraídos da nossa Literatura: de Euclides da Cunha, em “Os Sertões”: “Bastava que volvêssemos aos primeiros dias da Igreja, quando o gnosticismo universal se erigia como transição obrigatória entre o paganismo e o cristianismo, na última fase do mundo romano em que, precedendo o assalto dos Bárbaros, a literatura latina do Ocidente declinou, de súbito, mal substituída pelos sofistas e letrados tacanhos de Bizâncio.


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O que significa “Episcopal”


A palavra episcopal vem do latim episcopalis: do bispo. Episcopais era como foram chamados os protestantes da Inglaterra que, ao se separarem da igreja romana, conservaram grande parte das antigas cerimônias, com hierarquia semelhante à religião católica, porém, admitindo que a assembléia de bispos (ou de ordem pastoral) teria mais autoridade do que o papa, o que contrariava o dogma da infalibilidade, instituído no Concílio Vaticano. O cisma deu-se, na Inglaterra, durante o reinado de Henrique VIII, em 1534, que, para divorciar-se de sua primeira esposa, declarou-se chefe da Igreja inglesa,  separando-se de Roma, rejeitando alguns sacramentos, com exceção dos sacerdotes e bispos, sendo chamados, por isso, de ”episcopalistas”.

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O outro sentido de “Entusiasta”



A palavra entusiasta vem do grego  enthousiastés, formado a partir do radical enthousiastikós: cheio de entusiasmo, inspirado. Denota, hoje, o que se entusiasma ou que se dedica vivamente por algo ou alguém de maneira intensa e exaltada. Antigamente, entusiasta era o nome dado um grupo sectário, também chamados masalianos e euquitas. Segundo Teodoreto, que cunhou o nome, foram chamados entusiastas porque, “estando agitados pelo demônio”, acreditavam estarem inspirados. Outros que também foram denominados entusiastas são os anabatistas e os cuakeros (ou templadores), os quais se diziam cheios da inspiração divina e que defendiam que as Escrituras deveriam ser explicadas à luz desta inspiração.  Com o sentido que lhe atribuímos, temos vários exemplos na nossa Literatura: de Coelho Neto, em “A Conquista”: “Quando deixaram o escritório da Cidade do Rio, lentos, curvados como enfermos, ainda erravam entusiastas e alguns tão desequilibrados que começavam um viva numa calçada e iam terminá-lo na outra.”; Machado de Assis, em “Várias Histórias”: “No que eles estavam todos de acordo é que ela era extraordinariamente bela; aí foram entusiastas e sinceros”; de Euclides da Cunha, em “Os Sertões”: “À parte os raros contingentes de povoadores pernambucanos e baianos, a maioria dos criadores opulentos, que ali se formaram, vinha do Sul, constituída pela mesma gente entusiasta e enérgica das bandeiras”; Lima Barreto, em “Numa e a Ninfa”: “Havia ali de toda a gente; pobres homens desempregados, que vinham até ali ganhar uma espórtula; vagabundos notáveis, entusiastas ingênuos, curiosos e agradecidos; todas as cores.”

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É isso!

O outro sentido de “Enérgico”


O termo enérgico vem do grego, pelo francês énergique, que, por extensão de sentido passou a caracterizar: o que manifesta energia física ou que possui força física. Exemplo de Machado de Assis: “No meu tempo de rapaz dizia-se mordido; era mais enérgico, mas menos gracioso, e não tinha a espiritualidade da outra expressão, que é clássica.” No século XVI, enérgicos (ou energistas) era o nome que recebiam alguns discípulos de Calvino e Melanchton, os quais defendiam que a Eucaristia nada mais era do que uma energia ou a virtude de Jesus Cristo, e não o seu próprio corpo e sangue, como queriam os católicos.

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É isso! 

Quem era o “Eclético”?


A palavra eclético vem do grego eklektikós: eu escolho, em referência a filósofos do século III da Era Cristã, que selecionavam as opiniões as quais tomavam como melhores que a de outros pensadores, pois eram formuladas sem a orientação de nenhuma escola filosófica específica. Tais filósofos foram também chamados “novos platônicos”, uma vez que seguiam em muitos aspectos à filosofia de Platão. Entre os nomes mais conhecidos, destacavam-se: Plotino, Porfírio, Jâmblico, Máximo, Eunápio e o imperador Juliano, todos considerados pela igreja como inimigos do cristianismo. Para nós, eclérico é, na definição dos dicionários Aulete e Houaiss: o que inclui uma mistura de elementos selecionados em várias fontes, que seleciona o que parece ser melhor em várias doutrinas, métodos ou estilos. Exemplo de Machado de Assis, em “Balas de estalo”: “Conheci um médico, que dava alopatia aos adultos, e homeopatia às crianças, e explicava esta aparente contradição com uma resposta épica de ingenuidade: — para que hei de martirizar uma pobre criança? A própria homeopatia, quando estreou no Brasil, teve seus ecléticos; entre eles, o Dr. R. Torres e o Dr. Tloesquelec, segundo afirmou em tempo (há quarenta anos) o Dr. João V. Martins, que era dos puros. Os ecléticos tratavam os doentes, "como a eles aprouvesse". É o que imprimia então o chefe dos propagandistas.”

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É isso!

Quem foram os “Dissidentes”?


A palavra dissidente vem do latim dissidens,entis: afastado.  Dizia-se – antigamente – na Polônia, daqueles que professavam as religiões luterana, calvinista e grega, os quais gozavam do livre exercício de suas crenças. Antes de ser incorporada à Rússia, o rei da Polônia prometeu mediante a pacta conventa tolerar e manter a paz e união entre tais grupos religiosos, com exceção dos arianos e os socinianos, que sempre foram excluídos. Hoje, o termo denota uma pessoa que diverge de opiniões, princípios, idéias, crenças, condutas etc. Exemplos: de Machado de Assis, em “Papéis Avulsos”: “Esta frase foi proposta por Sebastião Freitas, o vereador dissidente, cuja defesa dos Canjicas tanto escandalizara os colegas”; em “Esaú e Jacó”: “Aliás, os dissidentes já o haviam excomungado também, declarando abominável a sua memória, com aquele ódio rijo, que fortalece alguma vez o homem contra a frouxidão da piedade.”;  José do Patrocínio, em “Pena de Morte”: “Motta Coqueiro, cordato por índole, achou-se por isso mesmo a braços com grandes e insuperáveis dificuldades, visto como insistia no congraçamento dos campos dissidentes, único meio de fortalecer o partido.

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É isso!

O que é "Elegia"


Elegia, do latim elegia  (elegiacum carmen, poema moestum, carmen lúgubre), é um certo gênero de poesia em que se narra coisas tristes e lamentosas, composto de versos hexâmetros e pentâmetros alternados. Ou, na definição do Michaelis: poema pequeno, consagrado ao luto ou à tristeza.  Abaixo segue um exemplo de Bocage, que versa sobre a trágica morte de Maria Antonieta, que foi guilhotinada aos 16 de Outubro de 1793.

À TRÁGICA MORTE DA RAINHA  DE FRANÇA, MARIA ANTONIETA

Século horrendo aos séculos vindouros,
Que ias inútilmente acumulando
Das artes, das ciências dos tesouros:

Século enorme, século nefando,
Em que das fauces do espantoso Averno
Dragões sobre dragões vêm rebentando:

Marcado foste pela mão do Eterno
Para estragar nos corações corruptos
O dom da humanidade, amável, terno.

Que fatais produções, que azedos frutos
Dás aos campos da Gália abominados,
Nunca de sangue, ou lágrimas enxutos!

Que horrores, pelas Fúrias propagados,
Mais e mais esses ares enevoam
Da glória longo tempo iluminados!

Crimes soltos do Inferno a Terra atroam,
E em torno aos cadafalsos lutuosos
Da sedenta vingança os gritos soam.

Turba feroz de monstros pavorosos
O ferro de ímpias leis, bramindo, encrava
Em mil, que a seu sabor faz criminosos.

A brilhante nação, que blasonava
D'exemplo das nações, o trono abate,
E de um senado atroz se torna escrava.

Por mais que o sangue em ondas se desate
Nada, nada lhe acorda o sentimento,
Que as insanas paixões prende, ou rebate;

Vai grassando o furor sanguinolento,
Lavra de peito em peito, e de alma em alma,
Qual rubra labareda exposta ao vento:

Não cede, não repousa, não se acalma,
E a funesta, insolente liberdade
Ergue no punho audaz sanguínea palma.

Bárbaro tempo! Abominosa idade,
Às outras eras pelos Fados presa
Para labéu, e horror da humanidade!

Flagelos da virtude, e da grandeza,
Réus do infame e sacrílego atentado
De que treme a Razão, e a Natureza!

Não bastava esse crime?... Inda o danado
Espírito, que em vós está fervendo,
A novos parricídios corre, ousado?...

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É isso!

O que é um “Edito”


Edito, do latim Edictum, é um mandato, decreto ou ordem publicado por uma autoridade máxima (príncipe, rei, imperador etc.). 

Exemplos de Antônio Vieira, do “Sermão de Santa Catarina Virgem e Mártir”: “Já vimos como o primeiro motivo desta gloriosa tragédia foi o bando e edito de Maximino, em que, sob pena da vida, mandou que todos os súditos do seu império, pelos benefícios com que os deuses o tinham favorecido e prosperado, lhes viessem dar graças e oferecer sacrifícios. E que diremos de tal edito?”; em “História do Futuro”: “Mas o que eu só quero ponderar, e peço por reverência do mesmo Deus aos Reis Católicos, a seus conselhos e a seus letrados ponderem, é o que Ciro, rei não católico, chama preceito de Deus neste seu edito”. 

Entre os mais famosos editos, destaca-se o “Edito de Milão”, promulgado por Constantino, no ano 313, com o qual estabeleceu a liberdade de culto em todo o império. Os dicionários, no entanto, fazem distinção entre edito é édito (com acento). Este último, segundo o Aulete, é uma ordem, mandado de autoridade ou citação de juiz que, para conhecimento geral, se afixa em lugares públicos ou se divulga em publicações por meio de anúncio chamado edital. 


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É isso!

O que são os “Campos Elísios?”



O termo elísio vem do grego  elusios, pelo latim elysium, que, para os antigos gregos e romanos, era a morada dos heróis e das pessoas virtuosas após a morte. Na linguagem cristã seria “o céu dos pagãos”. Dizia-se que os deuses habitavam o Olimpo, e as almas boas iam para os Campos Elíseos, local onde, segundo crença antiga, reinava uma primavera eterna, e o qual tinha seu muro de alabastro com rubis, as portas de marfim e de ouro, sendo vigiado à entrada pela Virtude, a Inocência e a Felicidade, virgens formosas, em cujos rostos brilhavam a bondade, a candura e a alegria, que seria o oposto do temível Hades, morada das sombras, das trevas e da tristeza. Platão faz menção desse aprazível lugar em “A República”: “Museu e seu filho, da parte dos deuses, concedem aos justos recompensas ainda maiores. Conduzindo-os aos Campos Elísios, introduzem-nos no banquete dos virtuosos, onde, coroados de flores, os fazem passar o tempo a embriagar-se, como se a mais bela recompensa da virtude fosse uma embriaguez eterna.” Com o tempo os Campos Elísios  passaram a designar o cemitério: a morada eterna dos mortos. Seu uso foi muito comum no Brasil e outras partes do mundo, mais intensamente até o século XIX, como se pode observar nesses exemplos: de Erasmo de Rotterdam, em “Elogio da Loucura”:  “Voltando, pois, à felicidade dos loucos, devo dizer que eles levam uma vida muito divertida e depois, sem temer nem sentir a morte, voam direitinho para os Campos Elísios, onde as suas piedosas e fadigadas almazinhas continuam a divertir-se ainda melhor do que antes”; de Almeida Garret, em “Viagens na Minha Terra”: “Não lhe vejo remédio senão recorrer ao bem parado dos Elísios, da Estige, do Cocito e seu termo: são terrenos neutros em que se pode parlamentar com os mortos sem comprometimento sério e...”; de Eça de Queiroz, em “Prosas Bárbaras”: “A noite descia: caía de cima uma claridade láctea: pesava um austero e lento silêncio: a larga brancura celeste era gloriosa; os pastores desciam com os rebanhos lentos, balando; havia pelo ar uma bondade indefinida, uma virtude fluida: eu lembrava-me dos Elísios olímpicos e mitológicos onde, na claridade, passam as sombras heróicas, serenas, brancas, leves, levadas por um vento divino. Claridades sem sol!

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A singularidade do “Ébano”



A palavra ébano vem do latim ebenus, que é uma madeira bem pesada e maciça. Figurativamente designa algo de cor muito escura: "negro como o ébano". Diz-se, na mitologia grega, que o trono de Hades, o rei dos infernos, era de ébano e de enxofre (o ébano mantém também simbologia com o Inferno e Plutão).  A Bíblia faz menção do ébano como uma mercadoria valiosa de escambo: “os homens de Dedã eram teus mercadores; muitas ilhas eram o mercado da tua mão; tornavam a trazer-te em troca de dentes de marfim e pau de ébano” (Ez. 27:15).  Encontramos na Literatura Portuguesa muitos exemplos do ébano como uma madeira valiosa, sendo igualmente valiosos os objetos que se faziam dela: de Eça de Queiroz, em “A Cidade e as Serras”: “Mas a sua veneranda face já não resplandecia, como em Paris, com um tão sereno e ditoso brilho de ébano”; de Machado de Assis, em “Quincas Borba”: “A secretária captou as admirações gerais; era de ébano, um primor de talha, obra severa e forte”; de Almeida Garret, em “Viagens na Minha Terra”: “Anéis dourados, tranças de ébano, faces de leite e rosas como de querubins, outras pálidas, transparentes, diáfanas como de princesas encantadas, olhos pretos, azuis, verdes...”; de Adolfo Caminha, em “Tentação”: “O leito de Julinha era todo de uma madeira escura e sólida, como ébano-da-índia, e custara um dinheirão ao Furtado”; de Joaquim de Macedo, em “Os Dois Amores”: “A despeito das galas e do luxo de alguns imensos mausoléus, o pó, o nada humano parecia transudar por entre as molduras douradas, e uma caveira se mostrava triunfante de sobre as colunas de ébano.”

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24 de nov. de 2012

O que é “Dilúvio”


Dilúvio, do latim diluvium, designa especialmente a grande inundação que foi enviada sobre a terra no tempo de Noé, a qual, segundo a Bíblia, foi consequência de um castigo de Deus por causa  da maldade humana. Por extensão de sentido, o termo passou a designar chuvas abundantes, torrenciais e demoradas, que alagam vastas extensões de terras, provocando cataclismos e inundações. A mitologia grega também faz menção de um grande dilúvio. Diz o mito que durante o reinado de Deucalião, rei da Tessália, os deuses ordenaram um dilúvio universal para castigar o homem por seu excesso de maldade, permitindo que se salvassem apenas Deucalião e sua esposa Pirra, por serem ambos de muito boa índole. Georges Hacquard, em seu “Dicionário de Mitologia Grega e Romana” escreveu sobre o assunto: “Um só casal devia escapar à destruição: Deucalião, rei da Tessália, filho de Prometeu, e sua esposa, Pirra. Com efeito, Deucalião, aconselhado pelo seu pai, sempre vigilante, construiu uma embarcação, na qual se refugiou com a sua mulher, esperando que a catástrofe terminasse. Durante nove dias, a terra foi sacudida por trombas de água, enquanto o navio navegava por entre as montanhas. Na aurora do décimo dia, a chuva parou. O nível das águas baixou e o barco encalhou no monte Parnaso, na Fócida.” De dilúvio tiveram origem muitas palavras, tais como: diluviano (ou diluvial): relativo ao dilúvio universal ou a outro dilúvio; diluviar: chover torrencialmente; diluvioso: que provoca inundação etc. Em “Crisálidas”, o nosso genial Machado de Assis  faz menção do episódio bíblico, com o poema que tem por título exatamente “Dilúvio”: 

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O DILÚVIO (1863)

E caiu a chuva sobre a terra quarenta dias e quarenta noites. GÊNESIS — cap.7, vers. 12

Do sol ao raio esplêndido,
Fecundo, abençoado,
A terra exausta e úmida
Surge, revive já;
Que a morte inteira e rápida
Dos filhos do pecado
Pôs termo à imensa cólera
Do imenso Jeová!

Que mar não foi! que túmidas
As águas não rolavam!
Montanhas e planícies
Tudo tornou-se um mar;
E nesta cena lúgubre
Os gritos que soavam
Era um clamor uníssono
Que a terra ia acabar.

Em vão, ó pai atônito,
Ao seio o filho estreitas;
Filhos, esposos, míseros,
Em vão tentais fugir!
Que as águas do dilúvio
Crescidas e refeitas,
Vão da planície aos píncaros
Subir, subir, subir!

Só, como a idéia única
De um mundo que se acaba,
Erma, boiava intrépida,
A arca de Noé;
Pura das velhas nódoas
De tudo o que desaba,
Leva no seio incólumes
A virgindade e a fé.

Lá vai! Que um vento alígero,
Entre os contrários ventos,
Ao lenho calmo e impávido
Abre caminho além...
Lá vai ! Em torno angústias,
Clamores e lamentos;
Dentro a esperança, os cânticos,
A calma, a paz e o bem.

Cheio de amor, solícito,
O olhar da divindade,
Vela os escapos náufragos
Da imensa aluvião.
Assim, por sobre o túmulo
Da extinta humanidade
Salva-se um berço; o vínculo
Da nova criação.

Íris, da paz o núncio,
O núncio do concerto,
Riso do Eterno em júbilo,
Nuvens do céu rasgou;
E a pomba, a pomba mística,
Voltando ao lenho aberto,
Do arbusto da planície
Um ramo despencou.

Ao sol e às brisas tépidas
Respira a terra um hausto,
Viçam de novo as árvores,
Brota de novo a flor;
E ao som de nossos cânticos,
Ao fumo do holocausto
Desaparece a cólera
Do rosto do Senhor.


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É isso!

Ponderações sobre o “Eco”


A palavra eco vem do grego ekhó (ruído, som), pelo latim echo. Diz-se de um fenômeno físico em que se observa a repetição de um som em consequência da reflexão das ondas sonoras. Na mitologia, Eco era uma ninfa filha do Ar e da Terra. Conta a lenda que, enquanto Júpiter assediava outras ninfas, ela entretinha a esposa deste com alongados discursos. Porém Jano descobriu o artifício, culminando em seu castigo, que consistiu em pronunciar apenas a última palavra a quem lhe perguntassem alguma coisa. Diz ainda a fábula que, após se sentir depreciada por Narciso, o qual havia se apaixonado por sua própria imagem refletida na água, Eco se consumiu restando-lhe unicamente a voz.

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É isso! 

Considerações acerca do “Destino”



A palavra destino vem destinar (destinare), que, no latim, tem o sentido de fixar, prender, segurar, firmar, determinar, resolver, nomear etc. Destinar, segundo dicionários, significa: determinar de antemão, fixar previamente, reservar algo para determinada finalidade etc. Na mitologia, Destino era filho do Caos e da Noite, a quem estavam submissos os homens, e o qual conduzia em sua mão uma urna contendo a sorte destes mortais. Era representado na figura de um ancião de austera aparência, tendo aos seus pés um globo terrestre.  Entre outros sentidos os dicionários de Língua Portuguesa dão as seguintes definições para o termo: encadeamento de fatos supostamente fatais, lugar a que se dirige alguém ou algo, o que há de vir, de acontecer etc. Exemplos de Machado de Assis, em “Dom Casmurro”: “Nem eu, nem tu, nem ela, nem qualquer outra pessoa desta história poderia responder mais, tão certo é que o destino, como todos os dramaturgos, não anuncia as peripécias nem o desfecho. Eles chegam a seu tempo, até que o pano cai, apagam-se as luzes, e os espectadores vão dormir”; em “Esaú e Jacó”: “Que importava saber o sexo do filho? Conhecer o destino dos dois era mais imperioso e útil”; em “Balas de Estalo”: “Mas tão depressa lhe dei essa resposta como recebi das mãos do destino um acontecimento deplorável, que me obriga a ser sério, na casca e no miolo”; em “Helena”: “Mendonça sentiu que metade de seu destino estava acabada, e que a outra metade ia começar, mais circunspecta que a primeira”; em “A Mão e a Luva”: “Um gesto, um só gesto, e é o meu destino que lhe entrego com ele, disse Guiomar olhando em cheio para o moço”; em “Ressurreição”: “Raquel estava mais tranqüila depois da conversa no jardim; mas, que destino teria a flor de sua alma, lírio transformado em goivo, vivido de lágrimas, medrado no silêncio?

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Os sentidos de "Bacanal"


A palavra bacanal vem do latim  bacchanal, bacchanalis, que eram festas celebradas pelos romanos em honra de Baco, os quais imitavam as orgias que se realizavam na Grécia. Baco, também chamado Dionísio, na mitologia, era filho de Zeus e Semele, o qual fora educado pelas Ménades, as ninfas do monte Nisa, de onde originou o seu nome. Segundo a lenda, Baco (ou Dionísio) foi o primeiro a realizar plantações de uvas, daí ser considerado o “deus do vinho”. Era representado na figura de um jovem alegre, levando em uma de suas mãos um bastão enfeitado com hera e pâmpanos, e na outra um cacho de uvas ou um copo de vinho. Da mesma origem temos as palavra: bacantes (do latim  bacchantes), que eram as sacerdotisas que se incumbiam do culto a Baco; báquico (do grego bakchikós), que se relaciona a Baco ou ao vinho; baquista, que é dado à embriaguez, ou que gosta de orgias. O termo bacanal denota, também, devassidão, desordem, tumulto etc. Na linguagem popular é sinônimo de suruba, que uma orgia sexual da qual participam três ou mais pessoas. Exemplo de Joaquim de Macedo, em “As Vítimas Algozes”: “A bacanal se completa: com a cura dos enfeitiçados, com os tormentos das iniciações, com a concessão de remédios e segredos de feitiçaria mistura-se a aguardente, e no delírio de todos, nas flamas infernais das imaginações depravadas, a luxúria infrene, feroz, torpíssima, quase sempre desavergonhada, se ostenta.”



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23 de nov. de 2012

Os sentidos de “Caos”


A palavra caos vem do latim chãos: confusão, inferno, escuridão, que deriva de um verbo grego, que significa estar aberto.  Na mitologia, era a primeira matéria na qual estavam reunidos os princípios ou essências do todos os seres. Quando Demogorgon, ou seja a Natureza, criou o caos, separou os elementos, colocando cada corpo no lugar correspondente, o que culminou na criação do mundo. Volatire cita esse mito em um de seus contos (“Sonho de Platão): “Demogórgon recebeu, como partilha a porção de lama que se chama a terra; e, tendo-a arranjado tal como hoje a vemos, julgava ter feito uma obra-prima.” Em seu “Dicionário de Mitologia Grega e Romana”, Georges Hacquard afirma que os antigos adeptos do Orfismo,  atribuíam ao acasalamento do Caos infinito com Éter (finita), o aparecimento do ovo cósmico de onde terá saído o primeiro ser. Segundo ele, o caos, no conceito grego, significa, literalmente, a vida infinita, anterior à criação e contendo em si todas as possibilidades. Entretanto, por confusão com o verbo cheo (derramar), pode-se igualmente considerar o Caos como sendo a matéria inerte, derramada no espaço. 


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Considerações sobre o “Asno”


A palavra asno vem do latim asinus, que significa: burro, jumento. Na mitologia, conta-se que o rei por nome Nauplio tinha o asno que  ensinara a Baco sobre a necessidade se podar a plantação de uvas, e para isso comeu ele uma cepa de videira, que logo em seguida brotou com muito mais vivacidade que as outras. Ainda na mitologia, diz-se que o asno costumava frequentar as festas consagradas a deusa Vesta, pela razão de que, tendo ela desprevenidamente cochilado, foi despertada pelo relincho do animal, que a salvou de UM iminente perigo. Na Bíblia consta que Deus fez uma jumenta falar após ter sido espancada por seu dono: “ Nisso abriu o Senhor a boca da jumenta, a qual perguntou a Balaão: Que te fiz eu, para que me espancasses estas três vezes? Respondeu Balaão à jumenta: Porque zombaste de mim; oxalá tivesse eu uma espada na mão, pois agora te mataria. Tornou a jumenta a Balaão: Porventura não sou a tua jumenta, em que cavalgaste toda a tua vida até hoje? Porventura tem sido o meu costume fazer assim para contigo? E ele respondeu: Não” (Nm. 22: 28-30). Figurativamente a palavra asno denota de maneira ofensiva um indivíduo desprovido de inteligência, ou seja: um burro. Exemplo extraído de uma das deliciosas crônicas de Machado de Assis: “Naturalmente, a maioria indignou-se. Um, para provar que o preopinante errava, chamou-lhe asno, ao que retorquiu aquele que as suas orelhas eram felizmente curtas. Essa alusão às orelhas compridas do outro fez voar um tinteiro e ia começar a dança das bengalas, quando me ocorreu uma idéia excelente.” Em relação ao nome da “voz” atribuída ao asno, são vários, a saber: azurrar, ornear, ornejar, rebusnar, relinchar, zornar, rebusno. 


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O significado de "Abracadabra"


A palavra ABRACADABRA é formada a partir de uma figura da qual se acreditava que tinha poder não apenas para curar enfermidades como, também, a virtude de evitá-las. As letras desta palavra deveriam estar expostas da forma como se vê acima. Tal figura era referenciada por ser composta em sua parte inicial do termo ABRACA, equivalente à divindade denominada Abracax ou Abracaxás (Abrasax), nome muito temido e venerado, porque cada um dos caracteres gregos que compunham a palavra somava um valor que alcançava uma quantidade de 365, que é exatamente o número de dias que compõe o ano. Acreditava-se que a divindade seria Mitra, dos persas.


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21 de nov. de 2012

Quem é o “Abade”?


A palavra abade vem latim eclesiástico  abbátem, que é o superior de um convento. Tinha o mesmo sentido de pai, ou aquele que tem as obrigações e qualidades de pai. Este título parece ter seu uso iniciado no século VIII, passando dos Prelados Regulares aos Prelados Seculares. Abade, na definição do Dicionário Houaiss, é o título ou cargo do superior dos monges de uma abadia autônoma ou dos membros de certas ordens ou congregações religiosas monásticas.



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A origem do “Dia de Ramos”


 O  Domingo de Ramos é a celebração católica que dá início à Semana Santa, quando se comemora a paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo, isto é, o cumprimento final de sua missão redentora no mundo. Neste dia a igreja relembra a entrada de Cristo em Jerusalém, onde fora para celebrar a páscoa judaica, sendo recebido pelo povo com grande entusiasmo e alegria, ao mesmo tempo em que o acompanhava durante o trajeto, uns estendendo os mantos na estrada, outros cortando ramos de árvores, para com as folhas juncarem a estrada e todos clamando: “Hosana ao Filho de Davi! Bendito seja o que vem em nome do Senhor!”, conforme relato das Escrituras: “ E a maior parte da multidão estendeu os seus mantos pelo caminho; e outros cortavam ramos de árvores, e os espalhavam pelo caminho. E as multidões, tanto as que o precediam como as que o seguiam, clamavam, dizendo: Hosana ao Filho de Davi! bendito o que vem em nome do Senhor! Hosana nas alturas!” (Mt. 21: 8 e 9). É por esta razão que se benzem as palmas nas igrejas e se distribuem ao povo. Esta festa é de instituição muito antiga, tanto que na “Vida dos Padres do Deserto”, se lê que, depois de um retiro de quarenta dias reuniam-se eles por ocasião da festa de Ramos, que precedia a Semana Santa. Neste dia a igreja benze as palmas e distribui ao clero e ao povo, para trazê-las na procissão, que é  feita no interior do templo em comemoração da entrada de Jesus Cristo em Jerusalém.


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Por que se diz “Feliz Ano Novo”?


Em nosso tempo, ao principiar-se um ano diz-se “feliz ano novo”, porque, em contraposição ao ano que findou, começa geralmente cheio de esperanças e de  bons anseios. É por isso que no dia primeiro do ano novo se fazem os cumprimentos de boas entradas e se apresentamos votos de felicidade no ano que se inicia, reunindo-se geralmente os membros de uma mesma família em um banquete ou outra qualquer festa para solenizar essa data. Desde os tempos mais remotos, o dia primeiro do ano sempre foi considerado um dia de festa, principalmente para a família. Em todos os calendários esse dia é assinalado como festivo e merecedor de especial solenidade. O uso dos presentes no dia de ano novo (antigamente se falava “ano bom”), segundo uns vem dos romanos, segundo outros vem dos gauleses. Quanto aos primeiros por causa dos strence, isto é, ramos escolhidos de um bosque consagrado à deusa da força, que eram dados pelos inferiores aos superiores no primeiro dia do ano. Os particulares entre si presenteavam-se mutuamente com pequenas moedas de cobre ou stips. No tempo dos imperadores os seus súditos ofereciam uma tâmara com uma película de ouro e às vezes também um figo, mel ou um stips. No tempo de Augusto esses presentes, que às vezes consistiam em uma soma em dinheiro, eram pelo imperador correspondidos por outro de igual ou de maior valor. Na ausência de Augusto, eram os presentes levados ao Capitólio e colocados diante de sua curul (cadeira). Tibério acabou com o uso dos presentes, que foi restabelecido por Calígula e suprimido por Cláudio, que se viu forçado a restabelecê-lo. Quanto aos gauleses a origem do uso dos presentes é atribuída ao costume que tinham de distribuir fragmentos de agárico ou visgo no dia primeiro do ano, quando findava a festa da colheita da planta sagrada. A igreja pretendeu abolir essa festa eivada de paganismo, mas não conseguiu, sendo forçada a transigir com esse uso, modificando porém o seu caráter e dando por findas as mascaradas grotescas dos tempos antigos. No Brasil desde os tempos coloniais o dia de “Ano Bom” ou “Ano Novo” foi considerado feriado e a República o conservou com o nome de “Comemoração da fraternidade universal”.

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Referência bibliográfica:
Almanach illustrado do Brasil-Portugal para o anno de 1901: Brasiliana - USP

A origem do dia de "Corpus Christi"


Esta festa foi instituída em 8 de setembro de 1240 pelo papa Urbano IV, como reparação do sacrilégio cometido por um sacerdote italiano, que celebrando o santo sacrifício da missa em lugar próximo a Divieto, perto do lago Bolsena, duvidou da presença real do sangue de Jesus Cristo, que por duas vezes se manifestou no corporal.  Esse ato de Urbano IV foi Confirmado pelo concilio de Viena em 1312, sendo papa Clemente V, e a celebração dessa festa tornou-se geral. As orações da solenidade do dia foram compostas por Santo Tomaz de Aquino.


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O sentido de “Avaria”


A palavra avaria  vem árabe hawariya, plural de hawar: prejuízo, dano. Diz-se de qualquer dano, deterioração ou desgaste que ocorra a algo, como veículo e, sobretudo, a um navio ou à sua carga. Antigamente referia-se a todo ou qualquer dano que sucedia a um navio, incluindo sua carga, seus gastos e demais imprevistos inerentes à viagem. Exemplos de José Saramago, em “Ensaio sobre a Lucidez”: “É impossível, gritou o agente, eu disse a verdade, não votei em branco, sou um profissional do serviço secreto, um patriota que defende os interesses da nação, a máquina deve é estar avariada”; em “A Caverna”: “O embrulho que Marçal tinha deixado ao guarda da porta continha duas máscaras, não uma. Para o caso de se avariar o sistema purificador do ar em alguma delas, dizia o bilhete.”


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Por que se diz “Tempos Áureos”?



Figurativamente os tempos áureos referem-se aos tempos de grande florescimento cultural ou que foram marcados por acontecimentos ditosos ou excepcionais. A palavra áureo vem do latim aureus: de ouro, da cor do ouro, coberto de ouro, brilhante. Entre os antigos romanos foi a primeira moeda de ouro, cunhada em 190 a.C. O seu valor era o mesmo que tinham antes as moedas de prata, sendo regulado pelo seu respectivo peso. Também foi o nome da moeda de Portugal desde os primórdios de sua monarquia, cujo valor era incerto. Diz-se que estes áureos eram as dobras de ouro antigas, lavradas pelo o rei D. Sancho I, que gravou sua figura montada a cavalo, e a inscrição: Sancius Rex Portugalis, e no verso o escudo do reino formado de cincos talhos com quatro estrelas entre os espaços, e nas beiradas a frase: In nomine Patris, et Filii, et Spiritus Sancti. Amen. O áureo dos romanos constava de 25 denários ou dinheiros, porém havia outro de menor valor que se chamava aureolo, que parece também ter sido usado em Portugal. Exemplos do uso figurado do termo: de Camilo Castelo Branco, em “Cabeça, Coração e Estômago”: “A acusação fez o penegírico dos séculos áureos em que não havia imprensa, nem as vidas das famílias estavam expostas aos enxovalhos de escrevinhadores devassos”;  de Mário de Sá Carneiro, em  “A Confissão de Lúcio”:Sim, a minha alma quer dormir e, minuto a minuto, a vêm despertar jorros de luz, estrepitosas vozearias: grandes ânsias, idéias abrasadas, tumultos de aspirações — áureos sonhos, cinzentas realidades…

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A origem da “Bula”


A palavra bula vem do latim bulla, bullae: bolha, selo, sinete. Este era o nome que se dava antigamente a qualquer diploma, carta, breve, rescrito ou letras apostólicas em pergaminho. Tinha ainda sentidos muito diversificados entre os romanos, que chamavam bula à insígnia que traziam no pescoço aqueles que entravam triunfantes em Roma. Este mesmo nome era dado às medalhas que os nobres levavam ao peito, como sinal de emblema ou como indicativo de sua nobreza. Já no fim do Império davam-se o nome de bula a todas às peças de ouro, prata e outros metais, lavrados em formato redondo e oval, e que serviam de ornamentos para escritórios, cadeiras, portas etc. Também os selos já foram chamados de bulas, sendo o nome dado pelo rei Luiz II, rei da França, chamado o Gago, que empunhou o cetro de 877 a 879. Hoje, o termo é mais utilizado em referência ao impresso que acompanha um medicamento e que contém as indicações necessárias para o respectivo uso, e, também, no caso da bula papal, que é uma carta patente que contém decreto pontifício. Exemplos de Joaquim Nabuco, em “Minha Formação”: “Alguns dos seus ilustres predecessores procederam por vezes contra a escravidão; tendo esta por única origem o tráfico, está de fato compreendida nas bulas que o condenaram, mas os tempos em que esses imortais pontífices falaram não são os nossos, a humanidade então não havia feito esforços para apagar o seu crime de tantos séculos contra a África, cuja raça infeliz parece destinada a sofrer, sob formas diversas do mesmo preconceito, a fatalidade da sua cor”;  em “O Abolicionismo”: “Nem os bispos, nem os vigários, nem os confessores, estranham o mercado de entes humanos; as bulas que o condenam são hoje obsoletas.”

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O que era “Candeeiro”



A palavra candeeiro é formada de candeia, que é uma pequena peça de iluminação, abastecida com óleo ou gás inflamável que queima num pavio fumegante, especialmente de algodão. Antigamente candeeiro (ou candieiro) era o nome do oficial que fazia candeias de cera, que mais tarde se chamou de rolo. O candeeiro era diferente do cerieiro, que fazia velas, tochas e brandões. Exemplos: de Eça de Queiroz, em “A Ilustre Casa de Ramires”: “E na sala alta do Gago, ao cimo da escada esguia e íngreme que subia da taberna, a um canto da comprida mesa alumiada por dois candeeiros de petróleo, a ceia foi muito alegre, muito saboreada”; de Alexandre Herculano, em “Eurico, o Presbítero”: “A tenda era, de feito, a do esforçado filho de Muça. A mesa do banquete ainda vergava com os restos das iguarias: os brandões já gastos e os candeeiros mortiços derramavam uma claridade suave pelo aposento”; de Machado de Assis, em “Missa do Galo”: “Tinha comigo um romance, Os Três Mosqueteiros, velha tradução creio do Jornal do Comércio. Sentei-me à mesa que havia no centro da sala, e à luz de um candeeiro de querosene, enquanto a casa dormia, trepei ainda uma vez ao cavalo magro de D'Artagnan e fui-me às aventuras. Dentro em pouco estava completamente ébrio de Dumas”; de Graciliano Ramos, em “Vidas Secas”: “Os meninos sentados perto do lume, a panela chiando na trempe de pedras, Baleia atenta, o candeeiro de folha pendurado na ponta de uma vara que saia da parede.”

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Os sentidos de “Carreira”


A palavra carreira, do latim vulgar carraria, designava antigamente a ida, jornada ou viagem que o vassalo era obrigado a fazer, a pé ou a cavalo, como forma de pagamento de uma pensão anual ao senhor feudal. Em Portugal, os almocreves pagavam estes direitos das carreiras em algumas localidades, que davam o nome de Almocreveria, Anadejra ou Andadejra. Os nossos dicionários dão várias definições ao termo, como estas, do Michaelis: corrida veloz, caminho de carro, curso, trajetória, profissão, esfera de atividade etc. Exemplos de Machado de Assis, em “Quincas Borba”: “Matriculou-se, é verdade, na Faculdade do Recife, creio que em 1855, por morte do padrinho que lhe deixou alguma coisa, mas tal é o escândalo da carreira desse homem que, logo depois de receber o diploma de bacharel, entrou na assembléia provincial”; em “Dom Casmurro”: “Na verdade, Capitu ia crescendo às carreiras, as formas arredondavam-se e avigoravam-se com grande intensidade; moralmente, a mesma coisa.”

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A origem da “Carta”


A palavra carta vem do latim charta, chartae ou carta, cartae: folha de papiro preparada para receber a escrita. Historicamente são diversos os tipos de cartas, dentre as quais:
Carta de alforria ou carta de liberdade (antigamente também chamada, em Portugal, de carta de ingenuidade) – documento pelo qual se concedia liberdade ao escravo, desde que ele não saísse do reino. Exemplo de Machado de Assis, em “Iaiá Garcia”: “Raimundo parecia feito expressamente para servir Luís Garcia. Era um preto de cinqüenta anos, estatura mediana, forte, apesar de seus largos dias, um tipo de africano, submisso e dedicado. Era escravo e livre. Quando Luís Garcia o herdou de seu pai, — não avultou mais o espólio, — deu-lhe logo carta de liberdade”.

Carta de Benefactis – instrumento pelo qual se concediam alguns bens como benefício a alguém, o que se denominava de Benefacere e Beneficiare, que era igual ao Beneficio que os monges faziam aos leigos, quando os admitiam como irmãos da sua confraternidade.

Carta de Câmara – alvará ou licença real à época do reinado do rei D. Manuel, do ano de 1502.

Carta direita – aquela pela qual se mandava fazer justiça.

Carta de gadea – O mesmo que carta de testamento, fiança, promessa, penhora que os Longobardos denominavam de Wadium ou Wadia.

Carta de maldizer – qualquer escritura que continha um crime, injúria ou infâmia contra alguém.

Carta de relinquimentos – documento de desistência ou renúncia, também chamado de Carta de Abrenunciação, de 1448.


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O que significa “Castelhano”


A palavra castelhano vem de castelão, do latim castellunus: relativo a castelo ou praça forte, natural de Castela (Espanha).  Antigamente era o nome de uma moeda de ouro, lavrada por D. Fernando o católico, da Espanha, com o peso e valor de 25 reales. Diz-se, hoje, dialeto românico desenvolvido em Castela até Velha, que prevaleceu sobre os demais da Espanha, e que deu origem ao moderno espanhol. Exemplo: de Almeida Garret, em “O Arco de Sant’Ana”: “Aninhas que se deixe estar no paço ou no aljube ou onde quer que está.., E Afonso de Companhã que se los coma com pan, como diz o castelhano... Ou que os doure e os traga por fora do barrete, como fazem senhores quando el-rei lhos prega... Cada um por si e Deus por todos.”


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A origem do “Casamento”


A palavra casamento vem do verbo casar, que, por sua vez, vem de casa, isso porque, segundo Antenor Nascentes, assim que se casam, os cônjuges formarão sua própria casa. Antigamente, designava um insuportável encargo ou pensão que os homens, as damas, os cavaleiros, os escudeiros, os herdeiros, os infantes anualmente extorquiam dos mosteiros. A parte que se dava aos homens chamava Cavalaria; a parte que destinada às mulheres Casamento, dada para o dote ou para a  manutenção de um matrimônio já contraído. Com o tempo passou a designar a união legítima de homem e mulher: o matrimônio.


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O outro sentido de “Catedrático”


A palavra catedrático vem de cátedra, do grego kathedra: que serve para sentar, assento, banco, fundamento. Antigamente catedrático era o nome de uma propina que os bispos davam quando eram promovidos à cátedra. Segundo um documento do arquivo da Mitra Bracarense de 1537, chamado o Cahtedratico, cada igreja deveria pagar 800 reis como propina. Hoje, segundo os dicionários, designa diz respeito ao lente efetivo de escola superior, professor titular de curso superior, indivíduo conhecedor de determinado assunto. Exemplos: de Jorge Amado, em “Capitães de Areia”: “Era advogado de muito nome, enriquecera na profissão, era catedrático na Faculdade de Direito, mas antes de tudo era um colecionador”; do padre Antônio Vieira, do “Sermão de Santa Catarina”: “O que só posso, e desejo aconselhar, é que todos os estudiosos e doutos, já que não podem imitar a santa vencedora, imitem os filósofos vencidos. Duas coisas tiveram insignes estes famosos catedráticos: a primeira, a docilidade, a segunda, a constância.”

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