Já
é do conhecimento de todos que as letras K, W e Y regressaram oficialmente ao
Alfabeto Português, após a aprovação do
Novo Acordo Ortográfico, assinado em 16
de dezembro de 1990, em Lisboa, por por Portugal, Brasil, Angola, São Tomé e
Príncipe, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique
e, posteriormente, por Timor Leste, e aprovado, no Brasil, pelo Decreto
Legislativo no 54, de 18 de abril de 1995.
O texto seguinte, extraído de uma das correspondências de Euclides da Cunha, no
dia 15 de agosto do ano de 1907, aborda questão envolvendo a exclusão das letras K e Y do Alfabeto, opondo-se o
escritor a esta decisão da Academia Brasileira de Letras, quando nos primórdios do século XX resolveu
tomar algumas medidas a fim de simplificar a escrita do nosso idioma. Interessante o assunto,
pois nos faz avivar que a ortografia pode mudar tanto pelo viés linguístico quanto por decreto oficial etc. Mas, vamos ao Euclides:
"Não sei se já aí chegaram notícias da Reforma Oreográfica... (Aí deixo, nestes maiúsculos e nestes h h, o meu espanto e a minha intransigência etimológica!) Realmente, depois de tantos anos de alarmante silêncio, a Academia fez uma coisa assombrosa: trabalhou! Trabalhou deveras durante umas três dúzias de quintas-feiras agitadas — e ao cabo expeliu a sua obra estranhamente mutilada, e penso que abortícia. Há ali coisas inviáveis: a exclusão sistemática do y, tão expressivo na sua forma de âncora a ligar-nos com a civilização antiga e a eliminação completa do k, do hierático k (kapa como dizemos cabalisticamente na Álgebra)...
"Não sei se já aí chegaram notícias da Reforma Oreográfica... (Aí deixo, nestes maiúsculos e nestes h h, o meu espanto e a minha intransigência etimológica!) Realmente, depois de tantos anos de alarmante silêncio, a Academia fez uma coisa assombrosa: trabalhou! Trabalhou deveras durante umas três dúzias de quintas-feiras agitadas — e ao cabo expeliu a sua obra estranhamente mutilada, e penso que abortícia. Há ali coisas inviáveis: a exclusão sistemática do y, tão expressivo na sua forma de âncora a ligar-nos com a civilização antiga e a eliminação completa do k, do hierático k (kapa como dizemos cabalisticamente na Álgebra)...
Como poderei eu, rude engenheiro, entender o quilômetro sem o empertigado
k, com as suas duas pernas de infatigável caminhante, a dominar
distâncias? Quilômetro, recorda-me kilometro
singularmente esmagado ou reduzido; alguma coisa como um relíssimo decímetro,
ou grosseira polegada. Mas decretou a enormidade; e terei, doravante, de
submeter-me aos ditames dos mestres.
Mas a discussão foi vantajosa. A importância da Academia cresceu. As suas
resoluções estenderam-se ao país inteiro — da rua do Ouvidor à Amazônia, da
porta do Garnier ao último seringal do Acre.
A próxima eleição, a quem concorrem
Jaceguai, João do Rio, Virgílio Várzea, anuncia-se renhida... e o achatado
palacete do cais da Lapa fez-se definitivamente a kaaba (caba, deveria escrever-se pela nova ortografia!!) de todos
os neophitos, ou neófitos, literários.”
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É isso!
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É isso!
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